[Para Além da Superfície] #42: Eu... perdi a poesia?
26 de Junho de 2025, Cusco - Peru
Toda vez que eu fico sem escrever por um tempinho eu acredito que sim.
Faz pouco mais de uma semana que eu não abro meu caderninho. E, agora, as palavras me parecem tão difíceis…
Há tanto para contar, mas não me vem nada além de simples descrições dos dias, das atividades, cronogramas, tarefas.
Fui ao Vale Sagrado dos Incas, Ollantaytambo, Machu Picchu, visitei sítios arqueológicos por todo o país, mas, ainda assim, não encontro nada poético para dizer sobre todas essas maravilhas de lugares.
Queria poder dizer que senti a tal da “energia diferente” quando cheguei em Machu Picchu, mas, na verdade, senti foi MUITO calor. Tanto calor que eu tive que arrancar as minhas 3 camadas de roupa e ficar só de top, o que me rendeu um decote vermelhasso por alguns dias. Que, quando quis parar para apreciar o lugar, “rezar”, e sentir a tal da energia, tinha um grupo de mulheres sentadas ao meu lado que não paravam de falar sobre as coisas mais f*dasse do mundo (kkkkkk) e então eu não consegui me concentrar para fazer o que eu mais queria fazer.
Mas, na hora de embora, aí sim.
Na hora de fazer a curva onde não daria mais para ver a cidadela e Huayna Picchu atras, eu não quis ir embora.
Me emocionei.
Talvez, ali, eu percebi, de verdade, que eu tinha realizado um sonho.
E tudo isso é muito louco.
A gente sonha TANTO com uma coisa, com um lugar. E quando chega nele…
Nunca é como a gente imaginou. Seja pra melhor ou para pior, é sempre diferente.
E aí você realiza o sonho. Mas é difícil processar que realmente o realizou, sabe?
Em alguns casos vem uma excitação, uma emoção tão intensa que eu choro, agradeço, comemoro. Dessa vez foi mais…. sutil.
Tudo no Peru têm sido assim…
Não há nenhum acontecimento grande, marcante, não tem nada acontecendo que me faça perceber que alguma chave está sendo virada - como aconteceu em Salvador, por exemplo.
Mas em um nível mais sutil, eu sinto sim a diferença.
Eu tô mais serena, como se tivesse aprendido a aceitar um pouco mais das coisas como elas são. Talvez seja por causa da altitude - Nos primeiros dias eu não sabia nem ao que meu corpo estava reagindo. Tô enjoada porque tô muito tempo sem comer ou por causa da altitude? A dor de cabeça, é por muito tempo olhando pro computador ou é a altitude? Essa tontura aqui, do nada, não tem o que eu fazer, preciso voltar pro hostel pra deitar um pouquinho…
As coisas se tornaram visivelmente incontroláveis. e então acho que eu fiquei mais suscetível ao teste. Será que se eu tomar um chá melhora? uma bala de coca? Será que eu preciso deitar? ou será que andar um pouquinho vai me ajudar mais?
Não adianta resistir. Não querer que a altitude te afete não vai fazer ela não te afetar.
Não senti a magia que eu esperava de Machu Picchu, mas eu estive lá! Eu vi com meus próprios olhos, eu toquei nas pedras, fiquei ofegante subindo as mil escadas, entendi o que tudo aquilo significava.
Acho que, pela primeira vez, eu tô realmente entendendo - e aceitando - que o que existe é o real, e que ele é suficiente. Que o que acontece é tudo o que temos.
A expectativa, os planos, a imaginação são boas, incríveis! - Mas só existem no campo das ideias. E toda ideia trazida à realidade vai ser diferente do que ela era na sua cabeça.
E é assim que é…
Cusco é diferente do que pensei. Imaginei encontrar uma cidade pequena, tranquila. Estou aqui em Junho, o mês que tem festas na rua TODOS os dias. São crianças se apresentando, desfiles, carros alegóricos. Algumas calçadas são tão pequenas que você precisa ir pra rua pra conseguir atravessar os lugares que você quer. É gente para caramba, um tumulto!
Não me conectei com Cusco da forma que eu esperava me conectar.
Isso significa que eu não gostei daqui? Não
Não era o que eu esperava, mas ainda é linda, ainda é cheia de cultura, de história, de gente que vive tudo isso na pele. Cheia de cafézinhos bonitos - que eu ainda não fui nem na metade porque tô na minha fase mão de vaca- cheia de hostels legais e pessoais mais legais ainda.
À essa altura, eu já larguei mão de todas as minhas expectativas.
Eu já sei o que aqui é e o que não é, e tô só…
Vivendo!
Vendo o que acontece. Trabalhando, voluntariando, vivendo um dia de cada vez…
Tenho fé que os próximos destinos, os próximos caminhos vão se abrindo para mim com o tempo. Estou aberta e atenta aos sinais.
E se eles não vierem, ao menos, dessa vez, as decisões estão me parecendo mais leves do que as da última temporada nômade... Agora eu sei que eu posso ir e voltar quando eu quiser, que eu posso mudar de ideia, que eu consigo bancar a vida que eu quero - seja ela qual for.
A poesia?
Ela sempre acha o seu caminho de volta até mim.
Não há porquê se desesperar.
✨Minhas Aleatoriedades da Semana
No canal do Youtube já temos o primeiro vlog do Peru, caso você não tenha visto ainda:
E !Spoiler! eventualmente teremos o Vlog de Machu Picchu também, ta tudo gravadinho <3
Episódio pedrada, como sempre. Desse podcast que eu amo:
Nunca tinha ouvido esse album inteirinho assim. Absurdo!
Com outro tom, sobre um tema parecido:
Dos textos que te dão caminhos para buscar a poesia com as suas próprias mãos…
🤝 Troca comigo?
Já se sentiu assim antes? Vivendo sonhos e nem sabendo como contá-los? Sentindo como se você tivesse perdido toda a poesia do seu corpo?






Isso foi tão lindo! Me senti assim em algumas viagens e, no primeiro instante, me questionei o porquê que eu não estava super eufórica, "Será que isso significa que eu não amei a viagem?". Você conseguiu colocar em forma de texto os meus pensamentos. Não pare com a newsletter, eu a adoro!
Não parece mas o momento de vida em que estamos reflete muito em como absorvemos as coisas, e isso inclui também, o lugar que estamos vivenciando isso. Digo isso porque no meu ultimo destino (dentro de casa mesmo, no BR) eu visitei um lugar que todos comentavam que eu iria amar, me conectar e foi um lugar... bacana...muito bacana, mas não senti A magia!
Assim como visitei Machu Picchu... na minha primeira viagem internacional com meu parceiro, escolhemos e roterizamos juntos, desbravando o Peru (olha a quinta série kkkk), em baixa temporada, só com nossa mochila de 45L... apesar de não conhecer METADE do que gostaríamos, foram momentos muito marcantes pra ambos. Porque aquele ERA O MOMENTO! Mas nem tudo é só o lugar, e sim as experiências que tivemos por lá.. .
Enfim... eu falo muito aushuas. Mas adorei o seu relato sincero!