[Para Além da Superfície] #39: Cansei do filtro, quero falar sem pensar!
E, às vezes, é disso que você tá precisando também...
Esse mês disse “sim” para alguns eventos que podem ser constrangedores para muitas pessoas: aqueles lugares que você vai sozinha, sem conhecer quase ninguém.
Neles, me percebi usando o tema “viagem” como forma de performance.
É engraçado, porque, na Internet, virou meio que o meu trabalho falar sobre as minhas viagens, minhas experiências. Por aqui, eu aprendi a falar sobre elas com o meu jeitinho, falo sobre elas vindo de um lugar de expressão, de vulnerabilidade.
É falar sobre as minhas experiências para poder também processá-las.
Mas, na vida real, onde eu não posso me apresentar com um vídeo conceitual, com texto, imagens e trilha sonora, percebi que o tema “viagens” não vem desse mesmo lugar.
Quando alguém que eu não conheço pergunta o que eu faço, eu tendo a focar só na parte corporativa “Ah, eu trabalho com RH”. Falar que eu sou criadora de conteúdo ou, PIOR, ver alguém que eu não conheço abrindo o meu instagram na minha frente me da uma pontada de vergonha muito grande. Não por não ter orgulho do que eu faço - porque eu tenho, e muito! - mas por me sentir aberta, exposta, assim, em questão de 2 minutos. ..
E aí a pergunta que SEMPRE vem é: “E qual foi a viagem mais legal que você já fez?”
O que abre as portas pra ela, a performance.
Esse é o momento que eu tenho que mostrar que eu sou interessante, que eu já fiz coisas incríveis, que eu “valho a pena”.
(E geralmente eu falo sobre a Bósnia e Herzegovina, um dos países mais diferentes - e mais legais - que eu já fui kkkkkkkkkk)
Não acho que seja um sentimento individual, essa insegurança ao conhecer pessoas novas, essa necessidade de se provar, de mostrar que você tem conteúdo para compartilhar também.
Mas é engraçado, porque quando eu tô viajando, quando eu tô em Hostel, a coisa menos interessante sobre mim é que eu viajo. Os lugares que eu já passei se tornam tão “normais” que esse assunto não vira um tópico para se provar.
Na verdade, todas essas perguntas sobre viagens são o que mais me entediam quando eu tô na estrada. Tipo,
“Que saco! Eu entendi que você viaja, agora me conta algo mais real sobre você!”
Viver viajando também pode ser MUITO raso.
Mas a estrada acaba te dando os dois lados da moeda: algumas relações extremamente superficiais, em que você passa 10 dias 24h por dia do lado de uma pessoa e, ainda assim, não sabe nada sobre ela e pessoas que ao passar 2h por perto você já teve as conversas mais profundas da sua vida e já sabe tudo sobre ela.
Depende de quão disposto à conexão as duas pessoas tão.
Mas não é tão fácil assim, sair desse jogo de performance. Por causa disso aqui:
⚠ Aviso: esse vídeo é uma paulada (pra rever várias e várias vezes até entrar, de verdade, na cabeça) ⚠
“Você não tem medo da rejeição. Você tem medo de ser vista sem brilho, você tem medo de te conhecerem de verdade. Por que e se você finalmente parar de performar e ninguém mais ficar?”
Ao mesmo tempo, nesse último mês, eu também me percebi sendo MUITO eu mesma em alguns ambientes.
E, pra mim, o maior sinal disso, é quanto eu me pego falando sem pensar. Quando as palavras só saem da minha boca, sem nenhum tipo de filtro.
O “não precisar pensar” é o maior nível de conforto e liberdade que eu posso ter em uma relação. É um “eu tô tão de boa na sua presença, que eu sei que não importa o que eu falar, você não vai me julgar”. É uma certeza de que aquele espaço, e aquela relação, são seguras.
E aí a minha cabeça pode finalmente descansar um pouquinho e dar espaço para uma das coisas que eu mais amo e admiro nesse mundo: a espontaneidade.
E sinto (me) dizer:
Não da para performar e ser espontânea ao mesmo tempo.
Porque a performance, por definição, busca desempenho. Busca um resultado. Busca o “ser gostada”, “ser escolhida”.
Enquanto a espontaneidade não, o espontâneo só é, ali, natural, tranquilo…
Mas é difícil baixar a guarda.
E talvez a gente nem devesse baixar para todo mundo mesmo.
Acho que o importante é notar quando você está performando e quando você está sendo você mesma. Porque é insustentável (e inumano) performar 100% do tempo.
O palco é solitário, e a gente precisa se conectar.
Ao começar a escrever esse texto, eu achava que falar sobre viagens nesse lugar de performance era algo errado - e que eu tava fazendo isso em todos os lugares que eu passava. Mas agora, já no fim dele, lembrei que, recentemente, quando uma amiga minha me perguntou sobre como foram as viagens, eu abri meu coração e disse tudo o que eu realmente sentia. Disse como foi maravilhoso e surpreendente, mas também como eu fiquei cansada, triste, entediada, frustrada…
Nesse lugar seguro, eu podia compartilhar todos esses sentimentos sem parecer “ingrata” por sentir tudo isso.
No fim, não é o tópico que importa. É com quem você fala sobre ele.
Não sangre em tanque de tubarões. Mas lembre-se de cultivar as relações que te dão abertura.
Cultive as pessoas que te fazem sentir mais como você mesma.
Cultive os lugares em que você pode falar sem pensar.
✨Minhas Aleatoriedades da Semana
(Dessa vez nem tão aleatórias)
O Instituto Amuta fala bastanteee sobre isso. Escolhi alguns recortes do Ebook sobre Esgotamento Relacional deles:
Nosso corpo percebe a solidão como um ataque físico.
Quando a gente se sente sozinha, quando sentimos que não temos conexão, nós ativamos a nossa amigdala - parte do nosso cérebro responsável por processar nossas emoções, memórias e respostas ao medo.
Para buscar proteção nós temos 4 opções de resposta: lutar, fugir, agradar ou dissociar. Adivinha em qual deles a performance entra? - e aí a gente retroalimenta esse ciclo de solidão. Resumindo:
A gente não consegue entrar no “modo conectar” com medo.
Falei um pouco sobre se sentir sozinha viajando nesse vídeo aqui (O sétimo da série “Lugares para Além da Superfície” - contando como foi a minha primeira temporada nômade):
Esse vídeo, do Arthur Miller:
Essa imagem clicou algo aqui dentro:
Mais uma pedrada:
🤝 Troca comigo?
Como você tem percebido as suas relações nos últimos tempos? Algo mudou? Como você se percebe nesse meio de caminho entre performar e ser espontânea? Como você cultiva as relações em que você pode ser você mesma?
Eu nunca cogitei trabalhar com internet, muito menos com a minha imagem. Mas né, me apaixonei por um YouTuber e essa vida me fisgou. Mas, sim, sigo morrendo de vergonha quando perguntam, como se tudo que eu fizesse fosse uma "banheira de Nutella".
E, ao mesmo tempo, quando tô em hostel, ODEIO falar quantos anos viajo. Não tem como falar sem parecer soberba, e acredita que acabo mentindo? kkkkk otária demais. Acho que querer trabalhar com isso "nos empurra" para a performance, mas é insustentável. Mas cai nessa não, é bão demais como você fala das tuas experiências, com os dilemas da viagem e da vida. Que um dia nossa estrada se cruze por ai 💛
Teu post me pegou de jeito. Tem sido tão dificil continuar a performance ultimamente.