[Para além da Superfície] #32: Entre Insistir e Desistir (de novo)
Dessa vez, em cenários (ainda mais) paradisíacos...
Eu pensei em desistir do meu voluntariado em Boipeba todo dia, umas 3 vezes por dia.
Antes mesmo de chegar lá, isso já era uma questão.
Queria continuar em Itacaré, mas, ao mesmo tempo, não queria ficar com aquele sinal de “Cancelou de última hora” na plataforma da Worldpackers. Não sabia o quanto isso poderia atrapalhar eu ser aceita em novos voluntariados no futuro…
Fui…
[Do caderninho]
Boipeba, 09 de outubro de 2024 - O dia da chegada
Não beber nas despedidas dos lugares. Viajar de Ressaca é a PIOR coisa que você pode fazer com você mesma. To sentindo um cansaço, uma tristeza, um desespero de ter ido embora de Itacaré TÃO grandes que ta até me assustando! Acho que só preciso de cama e Netflix (falando isso vendo o pôr do sol na praia, mas nem isso ta me impedindo de chorar horrores) Quando eu tô assim a saudades piora. Só queria o conhecido, confortável. Queria colo. Ainda tô aprendendo a me dar... Não queria ter começado do zero de novo, descobrir onde é o mercado, as praias, quem são as pessoas... tudo isso é muito cansativo! "Saí de Itacaré pra quê, então?" comentei com a mãe "Porque você é uma viajante. Você se mexe para conhecer coisas novas... Se você não tivesse ido ia ficar com ´E se...?´ na cabeça, pelo menos você foi e conheceu. Mesmo se não gostar..."
Até então, eu só tinha feito voluntariado de mídias - coisa que eu sei fazer, totalmente na minha zona de conforto. Dessa vez, a única vaga em Boipeba era para limpeza. 4h por dia com 2 folgas na semana, “ta melhor do que várias vagas da plataforma, vai dar para levar!” - eu pensei quando me inscrevi.
Mas Boipeba foi uma avalanche em cima de mim.
Depois da ressaca, uma gripe tenebrosa. 7 dias bem doente. Ainda com azia e dor de estômago. Fazendo faxina (e trabalhando)
Me cobrando de criar, mas sem energia pra pensar em nada.
Tava TUDO muito pesado. A saudades, o esforço físico, o cansaço.
As meninas que tavam lá de hóspedes brincavam: “Vamo olhar do lado da cama da Dri e vai ter a marquinha de dias contados, igual em prisão” KKKKKKKKKKKKKKK
E é real, eu me percebi MUITO reclamona lá. Eu tentava deixar mais leve, eu queria que fosse mais leve, tentava fazer ser leve, tentava mesmo.
Mas não conseguia…
Achei que teria uma energia muito maior do que eu tava tendo, uma disposição muito maior, que aguentaria muito mais…
“Você ta feliz?”
Essa pergunta voltou para mim de muitas formas enquanto eu estava lá. (E eu precisei de um tempo para respondê-la…)
Pensei em desistir todos os dia, mas, por alguma razão, não o fiz.
“Você não escolheu uma vida que te da liberdade? Por que você ta se prendendo a algo que você não ta gostando?”
Não sei dizer exatamente o porquê…
Tem algo no desafio que me chama. (O que é um perigo!): “Insistir te leva à resiliência ou à exaustão?”
Um pouco dos dois, talvez?
Paguei pra ver.
Conforme os dias foram passando, eu comecei a entender melhor as atividades, me acostumar, aprendi a lidar (e gostar) daquele ambiente, a gripe foi se tornando mais branda….
Pode ter sido a preguiça de mudar de lugar que me segurou ali.
Pode ter sido a busca por uma sensação de resiliência, de força, de “Deixa eu ver até onde eu consigo desenrolar”.
De certa forma, também não da para passar pela vida só fazendo o que se gosta. Fugindo do peso, das tarefas, das obrigações, do compromisso. (Mesmo quando se escolhe uma vida de liberdade…)
Não há demérito nenhum em desistir. Inclusive, muitas vezes é mais difícil desistir do que insistir. Desistir demanda muita coragem.
Mas algumas decisões a gente toma tomando, sem ter um motivo claro. Só vai ficando e ficando e ficando e, depois, entende o porquê do ficar.
Insistir no desconfortável foi necessário para que eu pudesse entender o quão gostoso estava o meu confortável anterior, o quão valioso ele era.
(
)
Também me fez me ajeitar melhor naquele cantinho e entender de que forma ele também poderia ser, pelo menos um pouquinhooo, mais confortável. Não seria um sofá de 5 lugares só pra mim (a vida não é um morango), mas aquele sofá meio velho e capenga que você precisa sentar de um jeito muito específico para ele ficar bom… Sabe?
Fui ficando.
E a experiência melhorou!!
Valeu à pena! ———- Mas poderia não ter valido.
Insistir ou desistir é caso a caso.
“Você ta feliz?”
- Eu tô exausta! - era a resposta que vinha de pronto.
Mas eu sabia que a felicidade de verdade vinha de eu saber que estava vivendo uma vida que eu escolhia viver - mesmo enquanto eu escolhia o desconfortável, sem nem saber porquê.
Às vezes é só uma questão de aposta, risco, esperança, fé!
Depois eu entendi: foi o fato de eu ter me colocado em movimento, ter tido a coragem de sair de um lugar bom, que fez Boipeba valer pra mim…
As praias paradisíacas, as águas cristalinas, os sons de pássaros, amizades e memórias que eu fiz lá foram o meu bônus. Tudo o que eu ganhei por ter tido a coragem de ir - e a de insistir mais um pouquinho…
✨Minhas Aleatoriedades da Semana
O peso e a leveza sempre arranjam uma forma de conversar - Um dia na minha vida em Boipeba, versão Vlog:
Por estar em um Eco Hostel, eu também aprendi muito:
Um print da minha galeria, dessa fase:
. Estou fissurada com a existência de Jah Van - que canta todas as músicas do Djavan versão Reggae (descoberta feita em Aracajú, onde (spoiler) já estou agora…
🤝 Troca comigo?
O que você já insistiu que valeu à pena? O que você já insistiu que olha hoje e percebe que teria sido bem melhor desistir? Conta pra mim… <3
Que lindo! Pra mim, Morro de São Paulo foi exatamente assim: um voluntariado difícil, MUITO trabalho e desgaste psicológico no trabalho online, e também fiquei doente: gripe + infecção alimentar 🤡 na última semana até pensei em desistir, mas conheci pessoas incríveis lá. Depois de lá, fiquei uns dois meses querendo só a vida boa 😆 agora estou voltando à ativa. Como é rica a vida de viajante, né? Espero que a vida “normal” pareça mais fácil depois, porque certamente é menos intensa.