[Para além da Superfície] #29: Se permita ser vista errando
As reflexões que o esporte carrega...
Eu já tive muitas idas e vindas com a atividade física.
Eu sempre fui uma criança gordinha (e meio desengonçada kkkkkk), aquelas que sempre eram escolhidas por último na educação física, sabe? Para melhorar, eu tenho um irmão que sempre foi bom com esportes. Na minha cabeça sempre foi uma coisa meio “eu com meus cadernos e o Bruno com os esportes dele”, cada um com a sua coisa, não tentava muito explorar esse meu lado…
Comecei a me exercitar como uma forma de emagrecer. SÓ. Durante muitos anos eu treinei como punição, e não por gostar de me movimentar (e esse papo podemos aprofundar em uma outra news)
Mas eu comecei a lutar muito cedo, com 13 ou 14 anos fiz a minha primeira aula de Muay Thai.
Lutei por alguns anos, tive que largar. Em 2021 comecei a fazer Kickboxing, mas em 2022 a constância também diminuiu. Foi na luta que eu encontrei, pela primeira vez, um esporte em que eu realmente me sentia boa, forte, capaz…
Hoje, depois de um longooo processo, eu vejo o esporte como uma brincadeira. Um jeito de eu canalizar esse tanto de energia que eu tenho aqui dentro, de cuidar da minha cabeça, de observar meus padrões e me desafiar.
E é muito engraçado observar, porque, se você presta atenção, em 1h de treino você já consegue perceber várias das suas respostas automáticas para as coisas.
Eu sempre vi uma galera jogando altinha na praia, aqui em Itacaré, no Rio de Janeiro, em qualquer praia do Brasil, eu acho. E eu sempre moorriiiii de vontade de jogar junto também!! E vocês sabem… Eu *tenho* a cara de pau de chegar e pedir pra jogar em rodinhas de gente desconhecida, não é esse o problema… Os 10 segundos de coragem para começar uma conversa nova, de boa. O problema vem depois, quando deixam você entrar e você erra 1, 2, 3, 30 vezes… kkkkkkkkkk. Eu JURO, a cada vez que eu erro eu percebo a minha autocrítica BERRANDO no meu ouvido “Ta vendo??! Você é ruim!! Ta estragando o jogo dos cara aqui! Não sabe, não faz” - aiai, como é difícil lidar com a nossa cabeça, né?
Então, dessa vez eu resolvi me dar um incentivo diferente: fazer AULAS de altinha (nunca tinha visto isso em nenhum outro lugar kkkkkk amei). O padrão, se repetiu, é claro.
Mas ali, na 1h30 de aula, eu entendo que o propósito é *justamente* você errar e tento me convencer disso racionalmente… Porque se você não errar você não vai aprender nunca.
Passada essa primeira barreira da autocrítica com um pouquinho de autocompaixão e paciência, chegamos no segundo ponto: o quanto O GRUPO da aula faz diferença no seu aprendizado e na sua performance.
Fui jogar em um grupo em que 2 das pessoas já tinham um nível mais avançado, eu jogava com eles e eles tentavam me ajudar, jogando a bola direto no meu pé com “vamos treinar essa chapa aí!” - Mas o semblante de decepção/frustração toda vez que eu errava já me dizia tudo KKKKKKK
Juro, confesso que depois de errar umas 15 vezes tudo o que eu queria era inventar que eu tinha torcido o pé para não ter que continuar jogando ali KKKKKKKKK mas resisti à essa ideia e continuei tentando…
Até que chegou uma terceira pessoa, numa energia completamente diferente, mega alto astral. Ela já chegou errando - achei incrível. Toda vez que o grupo acertava, ela dava uns gritinhos “Boaa!!” “É isso aí”, e toda vez que o grupo errava, ela, inabalável, continuava na mesma energia: “valeuu! Valeu a tentativa, bora!!”
Essa menina entrou no jogo e só por ser ela mesma, com esse jeitinho mais acolhedor, já conseguiu me deixar mais confortável para eu continuar jogando, sem me preocupar tanto se eu erraria ou não. Ela me fez querer continuar ali, me esforçando…
E se tem uma coisa que eu percebi jogando é que quanto mais você pensa, mais você erra. Se a bola ta vindo e você fica em dúvida se vai com o pé ou com a coxa, você acaba fazendo um terceiro movimento nada a ver com nada e erra a bola. Quanto mais você se afoba tentando antever a chegada da bola, mais você perde o timing do movimento. Mas quando você deixa fluir e só segue os movimentos que o seu corpo sabe fazer naturalmente, sem tanta pressão, sem tanta pressa, o jogo simplesmente FUNCIONA!
No dia seguinte, fiquei observando a galera jogando na praia e percebi um grupinho de meninas que tava jogando, errando, rindo… Engoli a vergonha e fui lá pedir para jogar com elas, e logo nos primeiros passes tortos que eu dei, percebi que ali seria um espaço confortável para o erro. E foi nesse grupo, do nada, o melhor joguinho que eu já fiz! Justamente porque eu sentia que tava tudo bem errar ali…
Na capoeira eu cheguei sem saber que seria um grupo só de mulheres e, quando eu me toquei, já percebi que seria incrível a experiência naquele espaço. É uma coisa linda, sério: mulheres, de todas as idades, residentes de Itacaré já há alguns tantos meses/anos, aprendendo a jogar algo que carrega uma ancestralidade (e responsabilidade) imensas; Um espaço de total acolhimento ao erro e de tentativas de se superar, cada uma à sua maneira.
Para mim, que já lutei, não é chutar o mais difícil, é fazer movimentos no chão, subir e descer rápido. Para outras pessoas, o mais difícil é colocar força, ou velocidade. E, ali, todas se ajudam a melhorar.
Quando fazemos roda, é uma energia (ou axé, já que estamos na Bahia) incrível: torcidas, comentários que incentivam quem ta jogando a melhorar. Eu entro na roda e dou risada. Rio dos meus erros. E é assim que tem que ser.
A não ser que você seja uma atleta profissional, esporte não é lugar de perfeição. Esporte é um espaço de tentativa e erro. Um espaço para você aprender mais sobre si mesmo e treinar suas capacidades. Ficar sim, mais forte, mais hábil, mais resistente, mas sempre humilde para entender que há mais o que aprender, que na perfeição ninguém chega.
É sobre fazer a sua autocrítica ter mais humildade. É falar para essa vozinha na sua cabeça: “Meu amooor, como você espera que eu já saiba jogar capoeira na PRIMEIRA AULA? ta achando o quê, querida? Que é fácil??” kkkkkkkkkkkkk Ô visão irreal que a nossa autocrítica tem da gente mesma, calma lá também, né?
Se permita errar, se permita ser vista errando. Só assim vão conseguir te ajudar, te corrigir e, quem sabe, você até consiga inspirar alguém com essa sua atitude, porque se você acolhe os seus erros, acaba mostrando para as pessoas ao seu redor como elas podem acolher melhor os erros delas também. E aí tudo fica um pouco mais leve (e divertido!)…
✨Minhas Aleatoriedades da Semana
O trabalho dessa menina é saltar de penhascos extremamente altos e toda vez que eu lembro do insta dela eu fico obcecada vendo todos os vídeos porque eu acho completamente INUMANO que alguém consiga fazer isso:
Esse podcast incrível que ouvi essa semana. Queria destacar um trecho em que ela diz: “Trate o fracasso como uma tarefa: só apareça e tente fazer, mesmo se você ainda não estiver totalmente preparado para fazer esse trabalho”. É isso!
Se você gostaria de entender o último podcast e acha que o aprendizado de um novo idioma pode ser um ótimo espaço de erro para você (e é mesmo!), aproveito a deixa para falar que vocês tem desconto para aprender qualquer idioma na Akadia com o meu cupom ADRIVENTURES <3 usem e abusem!!
Essa entrevista da Liniker explicando o album CAJU ta TUDOOOO. Nada como uma artista para te inspirar no seu dia a dia:
🤝 Troca comigo?
O que você já notou sobre si mesma através do Esporte? Me conta um pouquinho sobre sua relação com atividades físicas…