[Para além da Superfície] #28: Entre Insistir e Desistir
Chegar em Itacaré foi mais complicado do que imaginamos…
Dessa vez, vim em 3. Eu, May - que conheci em Salvador em Maio desse ano - e Dany - namorada da May, que conheci agora em Agosto também em Salvador.
O caminho é meio chato: um uber, um ferry de 1h de Salvador para Itaparica, depois um ônibus de mais 5h de Itaparica para Itacaré.
Já começamos errando* (kkkkkkk): Indo para o lugar que saiam as lanchas (mais turísticas) e não o ferry. Então, chegamos no ponto errado da Ilha de Itaparica e foi preciso pegar mais um táxi até a rodoviária.
11h50, chegamos na rodoviária.
O próximo ônibus seria às 13h20, mas só tinha espaço para uma pessoa. O próximo (e último) ônibus para o nosso destino seria às 15h20.
e lá se foram 4h de espera, para um trajeto de ônibus de 5h.
Eu não sei se você me acompanha pelo instagram, mas o dia de deslocamento geralmente é o PIOR dia da viagem para mim, é sempre o dia que eu fico mais ansiosa, mais preocupada, mais mal humorada. Só quero chegar logo. (Até aproveito o ônibus em si, gosto de ver o caminho passando e ir refletindo sobre a vida no modo avião, mas, nesse dia, as 4h de espera acabaram com o clima)
Chegamos às 20h30 em Itacaré, contrariando uma das minhas maiores dicas de viagem: “chegue nos lugares DE DIA”.
A intenção dessa viagem era conseguir descansar dos voluntariados, poder passar 30 dias pensando só nas nossas próprias coisas, nossos próprios trabalhos, aproveitar que a gente tava viajando juntas para conseguir aproveitar mais a cidade e a nossa companhia, então tínhamos alugado um quartinho só nosso por 30 dias.
O dono da casa foi nos buscar na rodoviária, uma faixa gigantesca na barriga, um cigarro apagado na boca, e segurando o porta-malas do carro que não ficava aberto sozinho. De cara, já deu pra ver que ele era uma figura.
Abrimos a porta do quarto.
O cheiro de mofo já gritou…
Era um quarto com mezanino: uma cama de casal no andar de baixo e uma cama de casal no andar de cima, onde além da cabeça bater no teto, ao deitar você inalava todo o mofo do telhado.
Fora os bichos…
Nas camas, não eram colchões de verdade, algo mais parecido com um colchonete, bem fininho.
Uma única janela, que dava para a cozinha da casa, compartilhada.
Não demorou muito para que cada uma de nós desse uma choradinha com essa situação…
“Um mês eu não sei, mas eu aguentaria 15 dias aqui…” - comentei com as meninas
Eu me considero uma pessoa bastante adaptável. Mas é uma adaptabilidade que faz com que eu consiga sustentar situações que, na verdade, eu ODEIO estar passando. Um pouco demais de “Se eu me encolher aqui, me dobrar ali, eu consigo caber…”
“Sério? Eu não aguento mais nenhuma noite” - elas disseram
O desconfortável conhecido às vezes é mais fácil pra mim…
Mais fácil do que arriscar pegar outro lugar que pode ter problemas parecidos, mais fácil do que apostar em uma experiência diferente, mais fácil do que gastar um dinheiro que eu não esperava gastar.
Persistir durante uma situação desconfortável nos da uma sensação de glória: “olha como somos fortes, olha como conseguimos enfrentar os obstáculos”. Desistir do quarto, em um primeiro momento, me deu uma sensação de “nossa, como você é fresca! Sério que você vai reclamar por isso?”
Até que ponto a insistência vale tanto assim?
Entramos na casa de tarde, o sol do meio dia estralando, o cheiro ainda pior.
“É, não vai dar”
Como uma boa taurina, posso dizer: o que às vezes parece uma força de persistência, na verdade, é só teimosia. É só ser cabeça dura…
Não da para saber se acharíamos algo que coubesse nos nossos gostos e orçamento, mas o importante é se colocar em movimento. Do céu é que não vai cair.
Hostel atrás de Hostel, Pousada em Pousada, entrando em todas as portas com “temos vagas” na porta.
Um muito caro, outro sem cozinha, outro só quarto compartilhado (“pra ficar em quarto compartilhado eu vou voluntariar, então”), mais um lugar muito caro.
Nessa busca, as meninas apontaram uma loja: “Nossa, que nome legal! Aurora Mística”
“Aurora? é o nome da minha cachorra!! É um sinal” - falei brincando. Mas foi
Numa daquelas portinhas que tem tudo para passar despercebido, achamos uma vilinha com kitnets e flats. “Parece caro, mas vamo ver, né? Vai que da!”
E deu.
Chorei tanto o preço que, no fim, a dona do lugar fez para 30 dias o preço que ela tinha oferecido para 15.
Saber a hora de insistir.
Indo para a praia ontem, ouvi um trecho de uma música que dizia: “E tudo o que eu ganhei só por perder na hora certa?”
Saber desistir também é virtude.
✨Minhas Aleatoriedades da Semana
Esse artigo GENIAL que eu li essa semana (que, talvez, algum dia, vire tema de news por aqui também):
A música que eu comentei no texto:
Essa playlist ALEATORIASSA que me soltou uma risadinha sincera com o título e a vibe:
Comecei a ler “Arte e Medo” publicado pela Seiva e to amaaando - com certeza vai virar tema para algumaS coisaS ainda (já tem vídeo no feed sobre heheh)
*Para ir de Salvador para Itacaré você precisa ir do Terminal Marítimo de São Joaquim para o Terminal Marítimo de Bom Despacho (na ilha de Itaparica). Ali você já ta do lado da Rodoviária de Bom Despacho e aí sim você consegue pegar um Ônibus de lá para Itacaré. Já fica a dica aqui para quem for fazer essa viagem…
🤝 Troca comigo?
Teve alguma situação que você persistiu mas sentiu que deveria ser desistido? Que no fim a insistência era você sendo cabeça dura? Me conta aqui…
Bateu aqui quando vc fala sobre a sensação de glória ao resistir ao desconforto: sinto isso.
Trocar o certo pelo duvidoso dá medo. A gente se apega ao que é estável, mesmo que ruim, até a quem costumamos achar que somos, mesmo que infelizes (homeostase que chama?). Mas a vida exige movimento e um pocado de fé, acreditando que, lá na frente, a sorte nos espera, que o acaso nos proteja. Viver é complicado, mas cheio de riqueza pra quem presta atenção, acolhe os riscos... E vai, com medo e peito aberto. Não é fácil, mas é preciso.