[Para além da Superfície] #19: Para não esquecer...
Quando eu era criança meu pai brincava de tirar fotos imaginárias.
Geralmente quando a gente tava dentro da água, em um pôr do sol bonito, ou em qualquer outra situação que um celular ou câmera não estivessem por perto. Ele juntava eu e meus irmãos atrás, erguia a mão, sem nada nela, e tirava essa nossa foto.
Guardo na memória até hoje um pôr do sol roxo, azul, rosa… Era na praia de Copacabana, eu com a água do mar na altura dos ombros…
(Antes de continuar a ler, da o play nessa música aqui)
Era segunda-feira, a minha última em Salvador.
Um dia ensolarado, daqueles que da até dó você ficar dentro de casa…
Minha agenda já tava mais livre, as principais reuniões do dia já tinham sido feitas. E eu ali, olhando o mar pela janela, tava louca para ir dar uma voltinha no ar fresco.
Dessa vez eu não queria ir sozinha… Fiquei esperando a May poder sair também.
“Amiga, tenho um plano perfeito!” - comentei.
Geralmente a gente só ficava na praia bem na nossa frente, na curta faixinha de areia do outro lado da rua do Hostel. Mas nesse dia me deu um estalo e, do nada, eu quis fazer diferente: “Tá afim de ir até o Farol da Barra?”
E Fomos.
Sem celular nem nada.
Tomando açaí, batendo papo e andando.
Já era fim de tarde. e a luz alaranjada do dia deixava tudo em volta ainda mais lindo.
É difícil não se apaixonar por Salvador…
Chegamos no Farol e, sem muita certeza de onde queríamos ficar, decidimos ir um pouquinho mais para frente, só para ver como era.
De repente, toda uma galera sentada junta, numa espécie de mini arquibancada.
Na ponta, de costas para o mar, um microfone e um violão.
Isso já aconteceu comigo algumas vezes... Simplesmente me surgir a ideia de ir para algum lugar e, no momento que eu chego, ter algo muito legal e muito inesperado rolando.
Gosto dessa sorte, ou presente, que o universo me dá de estar no lugar certo na hora certa.
A banda tocou de tudo. Para minha alegria, muita música brasileira.
Tentaram vender muitas coisas para a gente. E eu, de verdade, queria muitas delas, mas nenhuma tinha levado celular, cartão, dinheiro, nada…
Eu até queria ficar mais quietinha e só aproveitar a música rolando. Mas ali, com a May, eu só queria ficar contando e conversando por horas.
Eu falava, falava, falava…
O fim de tarde lindo, o farol da barra alaranjado, e nós duas sem uma unidade de registro desse momento.
Hoje eu escrevo para não esquecer…
As nuvens taparam o sol, bem quando ele ia se pôr.
Mas ali, naquele cantinho da Barra, o sol é pequeno comparado ao espetáculo que o céu, por si só, já da. Eram tonalidades de azul, laranja, amarelo, rosa, que cobriam o céu em despedida.
Eu falava sobre como Salvador me mexeu. Como ela me abriu os olhos para tantas coisas. E nesse troca, eu e May percebemos o quanto vivíamos processos bem parecidos nesse cantinho do mundo, mesmo em momentos de vida bem diferentes.
Começaram uns acordes. eu já sabia que música vinha vindo.
“mudaram as estações, nada mudou”
uma das minhas favoritas da vida.
Eu e May ficamos em silêncio. talvez pela primeira vez naquela tarde. cantarolando junto com a melodia.
Eu já sentia as lágrimas vindo.
A gente se olhava, e olhava para o céu.
O olho marejado como o cenário. Eu ria para disfarçar.
"Nem desistir nem tentar agora tanto faz estamos indo de volta pra casa… “
e a lágrima escorreu.
.
.
.
“Amiga, foi você o meu grande encontro dessa viagem”.
✨Minhas Aleatoriedades da Semana
1- Não vou falar sobre a May sem indicar o trampo maravilhoso que ela faz enquanto taróloga <3
2- Às vezes é questão de olhar para cima :)
3- Não é do mesmo dia, mas só para vocês terem um pouquinho da dimensão do que é a preciosidade do pôr do sol na Barra…
🤝 Troca comigo?
Me conta de algum momento que você só tem guardado na memória? Sem fotos, sem registros físicos, só um quentinho no coração…
Obs: Sinto que esse “Para não esquecer” é só a parte 1 de muitos momentos que foram (e que ainda serão) assim. Então, se você gostou me conta aqui pra eu trazer mais <3