[Para além da Superfície] #14: Qual a sua visão sobre o outro?
Talvez ela te diga muito sobre si mesmo...
“Eu não admiro ninguém” - eu dizia.
Sempre tive certa dificuldade em admirar as pessoas.
Não me leve a mal, eu consigo ver qualidades e coisas boas em (quase) todo mundo, mas colocar as pessoas nesse lugar de admiração sempre foi um pouco demais para mim…
É fácil admirar artistas, cantores, cineastas. Mas admirar alguém de dentro do meu ciclo social? Aí já complicava…
Essas pessoas sempre estiveram perto demais de mim, de forma que, além de enxergar as coisas boas, eu também conseguisse enxergar, com clareza, todas as coisas ruins.
"Ele é muito determinado, mas também, não vive para além do trabalho...” - Não é isso que eu quero para mim. “Ela é muito divertida, mas não tem uma unidade de opinião própria”
Sempre que eu pensava em alguma característica que eu admirava, vinha um “mas” gigantesco depois.
E pra mim nunca caiu muito bem essa ideia de “Você pode admirar as pessoas apesar dos defeitos delas”. Sempre foi algo mais voltado pro “Não, elas tem defeitos, não podem ser admiráveis, então”.
(A essa altura da nossa relação, na minha décima quarta news, vocês já devem ter percebido que eu realmente sou uma pessoa muito 8 ou 80, né?)
O problema central aqui é que, quando você aplica essa lógica para os outros, ela quase que inerentemente se estende para você também.
Na verdade, enquanto escrevo, percebo que é o inverso.
Se você aplica essa lógica para os outros, muito provavelmente é essa a visão que você já tem sobre você mesma:
“Eu tenho defeitos, logo, não posso ser admirável.”
E se tem alguém que entende dos nossos próprios defeitos somos nós mesmos, né?
E foi depois de muito tempo que eu associei tudo isso com um livro que linha lido em 2018 “O Caibalion” - que fala sobre a filosofia hermética e a lógica do universo.
Na Cabala, uma das leis universais - leis que regem o mundo como ele é - é a da Polaridade:
“Tudo é dual; tudo possui polos; tudo possui seu par de opostos; o semelhante e o dessemelhante são a mesma coisa; os opostos são em natureza idênticos, porém diferentes em grau; os extremos se encontram; todas as verdades são apenas meias verdades; todos os paradoxos podem ser harmonizados." - O Caibalion
Frio e calor são a mesma coisa, mas em graus (ou intensidades) diferentes. Claro e escuro, também.
Outra lei, a do Ritmo, diz que:
"Tudo flui para fora e para dentro; tudo tem suas marés; todas as coisas ascendem e descendem; a oscilação pendular é manifesta em tudo; a medida da oscilação para a direita é a medida da oscilação para a esquerda; o ritmo compensa.” - O Caibalion
A oscilação em uma direção determinaria a oscilação na direção oposta.
Pra mim isso significa: quem carrega muita claridade dentro de si, também carrega uma sombra na mesma proporção.
Talvez o defeito não seja um “apesar”.
Talvez seja exatamente por causa desse defeito que a qualidade positiva é TÃO positiva.
Talvez as duas coisas estejam intrinsecamente ligadas.
Talvez seja exatamente porque aquela pessoa não tem tanta visão crítica que ela se tornou tão divertida. Vai saber…
As coisas não são inerentemente boas ou ruins, a gente que fica tentando colocar tudo em caixinhas separadas.
A minha intensidade às vezes me deslumbra, às vezes me desola. Mas, talvez seja exatamente por conta dela que eu consiga enxergar tanta sutileza nas coisas.
A minha visão crítica - e, especialmente, autocrítica - que me ENCHE O SACO, também é o que, muitas vezes, me tira do lugar e me faz ter novas ideias.
Entender que não somos “apesar dos nossos defeitos”, mas também “por causa deles” pode nos fazer ter uma visão mais branda e delicada em relação à nós mesmos. E nos vendo de forma diferente, conseguimos ver os outros de outra forma também.
Se eu me vejo com rigidez e vejo a falha como algo “imperdoável”, como eu posso esperar que a minha visão sobre os outros seja diferente?
Admirar as pessoas não é querer ser elas. Não é querer pegar a parte boa e a parte ruim delas para si próprio.
Admirar as pessoas é sobre enxergar as partes que vocês têm em comum. Afinal, você não vê as coisas como elas são, você vê as coisas como você é.
✨Minhas Aleatoriedades da Semana
1- Comecei esse texto na segunda-feira, na terça vi uma entrevista do Hozier que me inspirou a escrever sobre uns 4 temas diferentes. Quem te inspira? A admiração começa daí… (E, pra minha surpresa, no fim do vídeo ele falou justamente sobre admirar os outros - como existem pessoas que você simplesmente bate o olho e sabe que elas são boas pessoas)
2- Se você gostou de toda essa brisa muito provavelmente vai gostar da Epstemia - eles tem váaarios conteúdos nessa pegada!
🤝 Troca comigo?
Quem você admira? Que pessoa você consegue enxergar as partes ruins e, ainda assim, exaltar as boas? Me conta aqui embaixo e compartilha esse texto com ela <3