[Para além da Superfície] #13: Não é o que você carrega que te deixa pesado
É como você carrega...
Sinto falta da escrita como sinto falta de uma velha amiga
Já escrevi essa frase várias vezes ao longo dos anos.
É curioso como é tão fácil deixar de lado as coisas que mais nos fazem bem…
Eu sei que eu gosto de fazer, eu sei que é o que me inspira, me alimenta. Sei que criar é o que faz com que eu me sinta viva mesmo quando não tem nada demais acontecendo do lado de fora. No fim, criar é um lindo jeito de se aventurar.
Mas, então, como pode ficar tanto pro segundo plano? Pro tempo que “sobra”?
Há um tempo já não trato mais meu instagram como hobby - se é que um dia ele realmente foi. Se eu tenho planejamento, calendário e acompanhamento de métricas, como que eu posso chamá-lo de hobby? Mas, ao mesmo tempo, porque eu não consigo chamá-lo de trabalho?
Tenho pensado muito na minha relação com o trabalho nas últimas semanas. Necessidade, dinheiro, obrigação, rigidez. Todas as palavras associadas a esse conceito, para mim.
Com frequência me pego pensando: “para que estou escrevendo essas Newsletters? O que elas vão me trazer? Será que elas realmente impactam alguém? Será que não to transformando TUDO em trabalho? Será que tornar a escrita, minha amiga tão íntima, um compromisso público não atrapalharia sua relação comigo?
Controverso.
Às vezes, é o compromisso de publicar um texto toda sexta-feira que faz com que eu a encontre semanalmente para um café, mesmo quando eu não quero tanto assim. Às vezes, torná-la pública me impede de desabafar minhas ideias antes mesmo que elas tomem forma.
Comentei isso com uma nova amiga (que parece velha) e ela retrucou: “Ué, você não pode escrever simplesmente porque você gosta de escrever?”
É.
Nem todo trabalho precisa carregar tanto peso dentro de si.
Quando você decide criar o seu próprio caminho, você também pode criar novos significados para velhos conceitos.
O que foi ensinado a ser fardo, não precisa seguir sendo assim.
Eu realmente gosto de escrever, e cultivar o exercício da escrita já deveria bastar.
Gosto de como eu começo escrevendo uma pequena frase e acabo em um lugar completamente diferente de onde comecei.
Escrever é deixar minha criança brincar.
Me sinto fazendo uma grande colagem: pegando pequenos fragmentos de memórias, emoções, devaneios e desejos e colocando tudo junto para ver no que da. Raramente sei qual será o quadro final, mas é uma sensação gostosa ver a coisa nascendo, fluindo. Acho que é um dos únicos momentos que eu realmente sei aproveitar o processo: enquanto escrevo.
Talvez não seja o fato de tornar público que torna tudo tão pesado.
Talvez seja o fato de eu estar escrevendo os textos na manhã do dia da postagem. Talvez isso seja matar minhas ideias antes mesmo que elas cheguem no papel, simplesmente por uma questão de tempo hábil. Aí se torna obrigação, aquele trabalho chato, padrão: quando a escrita vem depressa, para cumprir tabela, sem liberdade de apenas ser.
Não é o que eu faço que pesa. É como eu faço.
Se eu escrever e deixar a ideia se assentar, deixar ela parada decantando, talvez eu possa ver o processo acontecendo.
Quando há pressa, tudo que importa é o objetivo final. E aí eu deixo de aproveitar o meio termo, a ideia inacabada, o primeiro rascunho.
Pular do rascunho inicial para a versão final sem nenhum intermédio é colocar o estagiário para ser CEO. É não dá-lo chance de amadurecer. Uma crueldade com a ideia.
Não é o que eu faço que pesa. É como eu faço.
Sigo escrevendo e tornando a escrita pública, porque se eu não mostrar que eu escrevo, ninguém nunca saberá. Se eu não compartilhar minhas ideias, talvez nunca consiga achar alguém que consiga complementá-las.
Se eu não sentar na minha sala e criar, talvez eu nunca seja chamada para novas salas.
✨Minhas Aleatoriedades da Semana
Impossível falar sobre o peso das coisas sem lembrar do livro “A insustentável leveza do ser” - recomendo DEMAIS!!
Não sei se vocês conhecem a preciosidade que é o Hozier, mas amanhã estarei (finalmente) ouvindo ele ao vivo, então fica aqui a recomendação:
Pra te lembrar que às vezes uma coisinha nova já pode mudar sua perspectiva sobre algo:
🤝 Troca comigo?
Para além do trabalho, quais velhos conceitos você conseguiu atribuir novos significados? O que você via como peso e conseguiu passar a tratar com mais leveza? Me conta aqui <3